Compromisso é algo que precisa ser levado muito a sério. Por isso, os compromissos metem medo. Confesso que há muito desejo ter este espaço – que é mais ou menos público, mais ou menos privado – onde meus escritos sejam colocados à prova e com o trato de mantê-los com certa regularidade. Bem, é um trato que eu vinha adiando e que hoje venho cumprir.
Inauguro meu blog com um poema que não é muito novo. Foi escrito em 2006, mas acho que volta a ter significado: Planos e Palavras.
Céu de Aruanã-GO
Planos e Palavras
Estou voltando.
São minhas as asas,
Do pássaro que desce.
Eu voo e volto
De um plano para outro.
E voo e volto,
Voo e volto.
Eu mudo de plano
Ou mudam-se
Os planos?
Planando, eu
Viajo em mim.
Íntima alma
Desconhecida.
Estou voltando
Do plano profundo
E distante
Do universo
De dentro de mim.
Dos vazios
Que me formam.
Estou voltando
Porque o ar já me faltava
Como falta a todos
Os que tentam
Ir pra longe.
Seja para o alto
Seja ao profundo.
Já me aproximo do chão.
E vejo os montes
De natureza erotizada,
Os rios
Desenhados em sua pele.
Vejo as casinhas
Uma delas é a minha.
Estou voltando e preciso
Dar nome às coisas
Que não me dou conta de ter visto
No plano onde eu estava.
Nomeá-las,
Para que se expliquem
E deixem de me incomodar.
Estou voltando
Do plano onde as almas se calam.
Onde,
Por alguma urgência
De sua natureza
Decidem se recolher.
Porque o ar já me faltava.
Estou de volta
Do plano onde não há palavras
Nem julgamentos.
Mas aqui, na concretude,
Tudo precisa ter nome
E por eles são julgados
Explicados, condenados.
Aqui, a palavra é Senhora.
Escravos delas
É o que somos.
E como doem
Ai, como nos maltratam
Os sentimentos
Que não se explicam.
*Publicado na Antologia 2007 do VI Concurso Kelps de Poesia Falada.